Após o anúncio de retorno do concurso de duplas internacional, World Cosplay Summit, para o Brasil e a liberação de até então oito seletivas nacionais, a comunidade cosplay brasileira está atenta às novidades divulgadas.
Concursos de Cosplay são um dos principais meios de fomentação dentro do cenário cosplay, motivando criações de novos projetos, conexão entre cosplayers, movimentações de eventos e tudo mais que envolve participar das competições.
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Sabendo do grande interesse do público nesse novo formato do WCS, o Kosplay conversou com o coordenador das Seletivas nacionais, Mauricio Somenzari, bicampeão mundial do WCS juntamente com sua irmã Mônica Somenzari, dupla com mais vitórias na competição e primeira a se classificar em 2006.
Somenzari coordena uma nova fase do concurso e espera trazer sua experiência para engrandecer ainda mais o projeto. Confira a entrevista abaixo:
Kosplay: Você tem uma história com o WCS. Poderia contar como isso começou?
Maurício Somenzari: O WCS está na minha vida desde a primeira edição do concurso aqui no Brasil, em 2006. Quando soube da vinda do concurso para cá fiquei muito animado, eu queria demais, enxerguei nele uma possibilidade de realizar o sonho de conhecer o Japão e unir isso com a paixão que eu tinha por me apresentar. Naquele mesmo ano, eu e minha irmã vencemos a etapa brasileira e fomos ao Japão representar o Brasil como a primeira dupla brasileira da história do concurso, e lá conseguimos o feito de trazer o primeiro título para cá! Eu já me apresentava regularmente em concursos menores desde 2003, entretanto, o WCS 2006 foi a primeira vez que montei algo maior com mais ensaio e dedicação! Participamos eu e minha irmã novamente nas edições 2007, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013, sempre ficamos entre os 5 melhores e tornamos a vencer em 2011 e 2013 -- no Japão vencemos novamente em 2011, somos a única dupla do mundo a ter 2 títulos mundiais, 2006 e 2011, no WCS.
K: Qual a sensação de já ter vencido este concurso?
MS: Foi uma sensação muito incrível, pois tudo o que apresentamos, os cosplays, a performance, o áudio, foi tudo feito por nós mesmos, aqui em casa, sabe? É muito doido você ver algo que estava sendo feito na garagem da sua casa ganhar vida assim, ir parar no Japão e ainda por cima conquistar o primeiro lugar de um concurso mundial! Foi um orgulho imenso, representamos o Brasil por três vezes e das três ficamos entre os 4 melhores do mundo, sendo duas delas em primeiro lugar.
K: Como foi receber o convite de estar a frente das seletivas no Brasil?
MS: Eu já havia sido convidado para estar a frente do WCS em uma outra organização anterior, porém ela acabou encerrando o contrato com o WCS em 2021 devido à situação da COVID-19, agora em 2023, fui chamado novamente agora pela Geek+ e é realmente um grande orgulho pra mim ser reconhecido como alguém capaz de desempenhar este papel. Eu como cosplayer fui um "filho" do WCS e hoje, como profissional, tenho esse projeto como um filho pra mim, é um ciclo completo, tenho muita gratidão e carinho pelo projeto. Espero ao lado da Geek+, poder dar a oportunidade que eu tive para muita gente.
K: Como é trabalhar no retorno do WCS presencial após dois anos de pandemia?
MS: Tem sido extremamente desafiador, pois a pandemia transformou o cenário do cosplay de uma maneira que simplesmente não temos como comparar com como ele era anteriormente!
O concurso do WCS no Japão, se manteve praticamente o mesmo nestes 20 anos, então cabe a nós organizadores regionais, trazermos esse frescor que essa nova geração de cosplayers pede, dentro do que hoje temos como o "novo normal". A forma de se consumir e gerar conteúdo dentro do cosplay mudou, os talentos são outros, as habilidades da comunidade são outras. Estamos tentando o máximo possível adaptar os dois mundos, pré e pós isolamento social, reconhecendo as necessidades e talentos dessa nova leva de cosplayers que temos no Brasil sem descaracterizar a essência do concurso!
Tem sido extremamente desafiador, pois a pandemia transformou o cenário do cosplay de uma maneira que simplesmente não temos como comparar com como ele era anteriormente!
K: Você tem anos de experiência como cosplayer, jurado e figurinista. Qual a importância de um concurso como WCS existir no Brasil?
MS: São concursos como o WCS que nos conectam como comunidade! O Brasil é um país imenso e promover um grande encontro, um literal, "Summit", entre cosplayers do país inteiro é no mínimo fomentar o intercâmbio cultural, a troca de experiências e criar vínculos com pessoas diferentes, é utilizar da arte e das suas vertentes para promover além do entretenimento a cultura e oportunidades a pessoas unidas através de um hobby. Quando se entende o fenômeno social que é o cosplay e do que ele é composto, vemos o quão abrangente ele pode ser em termos de cultura e entretenimento.
K: Qual a maior novidade na parte nacional do concurso neste retorno?
MS: Temos diversas novidades este ano! Algumas ainda não divulgamos, mas em breve vocês saberão dos planos que temos para o concurso direto nas nossas
redes, temos planos a curto, médio e longo prazo. Por hora, a maior novidade é que este ano optamos por permitir que nas seletivas os cosplayers se apresentem com cosplays de qualquer origem! Entretanto para a final tanto brasileira, quanto japonesa, os cosplays devem ser apenas de origem japonesa. O WCS é uma celebração da cultura japonesa, mas como queremos abranger o maior número de duplas em nossas seletivas, optamos por tentar restringir o menos possível, flexibilizando algumas regras. Sabemos que a comunidade está
desaquecida no que diz respeito a grandes concursos, também sabemos do enorme potencial que é este produto que temos em mãos, então podem esperar um concurso inclusivo, abrangente e surpreendente da nossa parte.
K: Como você enxerga o cenário atual de competições no Brasil? O retorno do WCS impacta nesse cenário?
MS: O pós pandemia afetou a todos de uma maneira mais profunda do que imaginamos. Os eventos tem retornado aos poucos, e agora em reflexo do que foi popularizado durante a pandemia, a comunidade cosplayer acabou por polir outras habilidades, deixando um pouco de lado algumas, como a performance ao vivo, por exemplo. O cenário de competições no Brasil é reflexo disso, da economia, disponibilidade de tempo e prioridades. O intuito de investir desta maneira no WCS é o de fomentar a volta do Brasil ao cenário competitivo mundial, este lugar é nosso e foi conquistado com mérito, as portas continuam abertas basta guiar esta nova geração que talvez, não seja tão familiar com a oportunidade, e incentivar as gerações que já conhecem o concurso a regressar!
K: Esse modelo de seletivas no primeiro semestre permanece para os próximos anos, ou é uma adaptação porque não tivemos seletivas em 2022?
MS: Não temos relação alguma com os acontecimentos anteriores e outras organizações. A Geek+ entra à partir de 2023 e instaura seus próprios padrões de acordo com a necessidade atual do concurso e do mercado. É difícil falar de formatos sem mencionar a situação do mercado atual. Este modelo de 2023 vem para atender a demanda de 2023, para 2024, 25, 26 etc, teremos mudanças de acordo com a necessidade que teremos, tanto de parcerias quanto de tempo. Agradecemos demais o apoio da comunidade que tem se mostrado extremamente interessada e parceira, pois se estamos aqui é por ela e para ela.
K: O WCS é um concurso que avalia a parte de construção do cosplay e de apresentação. Existe alguma que o cosplayer precise dar mais atenção ou o equilíbrio das duas é que traz a vitória?
MS: O WCS leva em conta a totalidade do COS e do PLAY, tanto figurino quanto interpretação são importantes, também há de se levar em conta a CRIATIVIDADE e INOVAÇÃO, assim como a FIDELIDADE à obra original. Não se pode remover a parte criativa de um hobby como o cosplay, se não as apresentações acabam ficando engessadas, enformadas e tediosas. Há de se ter em mente também, que estamos falando de um formato de show, onde o impacto da apresentação como um todo conta demais. O equilíbrio destas variáveis é que vai garantir a vitória!
K: Na live você mencionou que a dupla brasileira vencedora receberá uma espécie de mentoria antes da final japonesa. O que seria essa orientação e qual a importância para a possível vitória no Japão?
MS: Isso é um grande projeto nosso que ainda vamos revelar em detalhes. Por hora, posso dizer que acreditamos tanto no potencial da comunidade que decidimos investir cada vez mais nele, e entendemos que o país está um pouco desacelerado no quesito concursos, então decidimos apoiar da melhor maneira possível.
K: Para um cosplayer que nunca participou do WCS e nessa condição de tempo, quais três dicas você daria para incentivar participação pela primeira vez?
MS:
1- Todo mundo começa do zero, não há vergonha em se apresentar pela primeira vez e se você tem a chance de fazer isso num concurso que pode te premiar com uma viagem para o outro lado do mundo, porquê não? Confie no seu potencial que seja, de aprendizado!
2- Cosplay é -acima de tudo- um hobby! Tem de ser divertido, divirta-se no processo! Levar a sério faz parte, ter comprometimento, ensaiar, faz parte. Mas lembre-se que acima de tudo você está nessa para se divertir!
3- 70% das duplas vencedoras de WCS Brasil foram duplas que se apresentaram pela primeira vez juntas, entre duplas novatas, duplas estreantes no concurso e duplas recém formadas. Talvez esta informação tranquilize vocês! Não buscamos nomes grandes ou relevantes, popularidade ou tradição, e sim talento, comprometimento e entrega.
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